sexta-feira, junho 27, 2008

Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH): Um Fantasma Conveniente?

Antes de aceitar que seu filho ou filha receba o diagnóstico de portador de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), leia atentamente este artigo.

A doença fantasma
Autora: Susan Andrews

Um menino de 16 anos, depois de ter sido expulso de várias escolas, se formou num colégio militar entre os piores alunos de sua turma, em meio a rumores de que havia colado nos exames. Seu pai lhe escreveu: "Neste seu fracasso você demonstrou sem nenhuma refutação seu estilo de atuação relapso, inconseqüente e bagunceiro. Estou certo de que, se você não for capaz de evitar a vida indolente, inútil e improdutiva que levou durante sua juventude, você se tornará um reles vagabundo, que se degenerará numa existência fútil e infeliz".

Esse menino era Winston Churchill. Seu boletim escolar na 3ª série dizia assim: "Conduta excessivamente ruim, sempre se metendo em alguma enrascada, um problema constante para todos, não dá para esperar que se comporte adequadamente em qualquer lugar". Hoje em dia Churchill provavelmente seria diagnosticado como portador de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).

O padrão psiquiátrico oficial para diagnosticar o TDAH inclui os seguintes comportamentos: "freqüentemente irrequieto com as mãos ou os pés, ou se contorcendo na carteira", "freqüentemente sai da carteira quando se espera que permaneça lá", "fica correndo excessivamente", "incapaz de atentar para os detalhes ou comete erros" e "parece não estar ouvindo".

Desde quando esses comportamentos infantis, variando de normais a indisciplinados, se tornaram uma doença? Os médicos repararam que os sintomas de TDAH costumam desaparecer quando essas crianças têm algo interessante para fazer. Ou quando lhes é dado um mínimo de atenção por parte dos adultos. Ou durante as férias de verão! De acordo com Peter Breggin, laureado psiquiatra americano, "não existem sinais neurológicos, nem base biológica para o TDAH. Não há nenhuma evidência de que ele esteja associado a uma disfunção física do cérebro".

Mas mesmo assim, no mundo, milhões de crianças são diagnosticadas com TDAH - quatro a nove vezes mais meninos que meninas. Essas crianças são rotineiramente tratadas com Ritalina ou algum outro estimulante, que paradoxalmente as acalma, provavelmente porque estimula o neurotransmissor dopamina. O princípio ativo da Ritalina, o metilfenidato, se situa na mesma categoria farmacológica de alto potencial de vício que a cocaína e as anfetaminas.

No Brasil estima-se que o TDAH atinja de 3% a 6% das crianças em idade escolar. Mais de 1 milhão de caixas de Ritalina foram consumidas em 2005 - um aumento de 25% em relação ao ano anterior. Virou moda no Brasil, como nos Estados Unidos, diagnosticar crianças bagunceiras como "hiperativas". Afirma o médico Bob Jacobs, da Rede dos Direitos da Criança da Anistia Internacional: "Quando a comunidade médica e as companhias farmacêuticas - os principais proponentes desse modelo doentio - admitem que desconhecem o que 'causa' essa estranha doença, e nem mesmo conseguem provar que ela de fato existe, os risinhos marotos evocados pela leitura dos critérios de diagnóstico se transformam em suspiros de descrença. E, quando tomamos conhecimento de que dezenas de milhares de crianças australianas (e também 5 milhões de crianças americanas, bem como um crescente número de crianças brasileiras) estão sendo sedadas com poderosas e perigosas drogas baseadas nessa doença 'inventada', esses suspiros se tornam gritos de ultraje".

Esses estimulantes fazem com que as crianças - tenham elas TDAH ou não - se tornem mais dóceis e obedientes. Para pais fatigados e professores estressados em escolas superlotadas, um medicamento para controlar "crianças difíceis" é uma bênção. Conclui Jacobs: "Fica claro por que a TDAH se tornou uma 'epidemia'. Quando uma criança é medicada, todos ficam felizes. A companhia farmacêutica tem mais uma venda, alguns médicos mais um paciente, os pais são isentados, e a escola se livra de um problema comportamental. Todos estão felizes, exceto a criança. E a criança não tem voz".

Não tem voz para se queixar dos efeitos colaterais que podem surgir da "droga da obediência", tais como dor de cabeça, insônia ou taquicardia. Embora alguns médicos sustentem que o uso de remédios estimulantes para crianças não causa malefícios, outros discordam veementemente. De acordo com Breggin, provou-se que psicoestimulantes podem causar danos cerebrais permanentes e irreversíveis, reações obsessivo-compulsivas, inibição do crescimento, depressão e até parada cardíaca.

Imagine agora se "o Honorável" Winston Churchill - ganhador do Prêmio Nobel, votado como o mais ilustre cidadão britânico de todos os tempos - tivesse sido sedado com drogas para hiperatividade? Qual poderia ter sido o curso da História?


Susan Andrews é psicóloga e antropóloga formada pela Universidade de Harvard, EUA; doutorada em Psicologia Transpessoal e monja iogue. Treinada no Centro Ayurvédico do Holy Family Hospital em Nova Delhi, na Índia, com o professor de Ayurveda internacionalmente conhecido, Dr. Bheema Bhatt e certificada pela International Academy of Ayurveda, de Pune, Índia. Autora de mais de 12 livros sobre Saúde, Psicologia, Yoga, Nutrição e Estresse (entre eles, o livro Stress a Seu Favor), ela coordena a ecovila Parque Ecológico Visão Futuro (www.visaofuturo.org.br). E-mail: susan@edglobo.com.br

Obtido em http://revistaepoca.globo.com e publicado na edição nº 441, de 30/10/2006

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