quinta-feira, junho 22, 2006

A História da Massagem

O toque tem sido um elemento essencial para a saúde dos homens desde os primórdios da história. Algumas das referências mais antigas sobre o tocar podem ser achadas em manuscritos que datam de 3000 a.C. Até mesmo em tumbas egípcias há hieroglífico que ilustram o uso de toque como uma forma de comunicação e tratamento. Se prestarmos atenção aos animais ao nosso redor , podemos ver que o instinto tátil é um dos mais básicos. Mesmo o processo de domesticar animais é os acostumar a toque humano. Muitos de nós hoje identificamos nossas relações por tipos de toque. O que é aceitável e o que não é aceitável, por exemplo, há pessoas que abraçamos e beijamos e outras com quem até evitamos qualquer contato físico. Em muitas experiências científicas, quando animais eram privados de contatos táteis, eles se tornaram menos saudáveis, suscetíveis a doença e com mudanças nítidas de atitude e comportamento. Um estudo com crianças prematuras demonstrou que aquelas que eram tocadas com manifestações de afeto regularmente tornaram-se mais saudáveis, desenvolveram-se mais rapidamente e eram os bebês geralmente mais felizes.

Quando a importância de toque, do contato tátil, poderia ter sido percebida pela humanidade? Um de nossos instintos biológicos mais básicos é responder à dor. Toda vez que nos machucamos, é uma reação imediata tocar a área, comprimindo ou esfregando-a para reduzir dor. Se você prestar atenção aos animais, verá que eles fazem o mesmo. Em algumas espécies, quando um animal é ferido, outros se juntarão para lamber suas feridas, ou até mesmo esfregar a área machucada. Muitas das referências antigas descobertas sobre o ato de tocar nos machucados dizem respeito à intenção de ungir as feridas.

As investigações de natureza arqueológica conseguiram descobrir como era a vida diária de nossos ancestrais. Eles usavam os elementos da natureza de forma a tornar suas vidas mais confortáveis e seguras. Calor e o frio eram problemas básicos com que conviviam e os levaram a habitar as cavernas, o uso de peles de animais para manter o calor ou a aplicação de água ou lama para se refrescar. Quando um método, testado talvez acidentalmente, conduzia a uma solução positiva, então ele era incorporado como parte de conhecimento do grupo. Por nossa resposta à dor ser muito mais rápida que qualquer outra reação que temos, é lógico supor que os métodos para reduzir a dor fossem rápida e amplamente divulgados já naquela época. O instinto dos animais de utilizar o toque no tratamento de suas dores e feridas deve ter sido um dos primeiros a se desenvolver também nos homens.

Como o cérebro humano armazena as respostas úteis para tratar as dores, ele procurará estas recordações cada vez que uma situação semelhante for encontrada. Este é o processo de evolução e aprendizado que, desde cedo, os humanos experimentaram. O período Neolítico (10,000 - 7,000 a.C.) foi a época em que os humanos deixaram de ser coletores de comida para serem produtores dela. Isto tornou possível para o homem começar a cultivar as mesmas plantas ele havia descoberto como sendo muito úteis para tratar doença e ferimentos. Isto fez com que se tornasse natural para cada tribo ter o próprio curandeiro, que residia nas mesmas terras e oferecia cuidados às pessoas que viessem a ele em busca de ajuda. As aplicações de ervas com as mãos representam os primórdios da massagem e eram a pratica mais básica destes primeiros curandeiros.

Mas durante essa época, o sucesso desses tratamentos era atribuído a entidades religiosas. Assim, o tratamento médico e o ritual de religioso eram inseparáveis. Isto fez com que o sucesso de cada método estivesse relacionado aos caprichos de uma deidade, em vez de ser atribuído ao toque e as propriedades curativas das ervas. Mesmo assim promoveu o desenvolvimento de massagem como uma forma de tratamento médico. E a evidência mais completa desta teoria do desenvolvimento da massagem pelo homem ancestral é que muitas culturas diferentes acabaram por estabelecer os mesmos princípios de tratamento médico, embora elas não tivessem nenhum contato umas com as outras. Nativos das Ilhas de Sanduíche, os Maoris da Nova Zelândia e o povo de Tonga, todos eles usavam a massagem, assim como faziam astecas, os egípcios e os chineses.

Com o passar do tempo, os curandeiros foram divididos em especialidades. Entre os astecas (1000 d.C.) os curandeiros, que eram conhecidos como Tictl, combinavam ervas com manipulações externas nos tratamentos. Egípcios tiveram muitos níveis diferentes de curandeiros alguns dos quais utilizaram tratamentos de massagem, preparados herbários e cirurgia no tratamento de doenças e ferimentos. Pinturas em parede, achadas na tumba de médicos no Vale dos Reis no Egito, parecem mostrar uma prática de algo semelhante à massagem e foram datadas como aproximadamente de 2330 a.C. Na China, descrições de massagens foram achadas nas escritas médicas de três imperadores importantes. Estes são os relatos mais antigos que se referem aos princípios da massagem de forma similar à que nós temos hoje:

  • Fu Fsi (c. 2900 a.C.) descreveu o Pa-Kua, um símbolo das linhas yin e yang. Isto conduziu ao diagnóstico e tratamento baseados no equilíbrio do corpo, uma antiga idéia de integração estrutural na massagem.
  • Sheen Nung, o Imperador Vermelho (Huang Ti) compilou o primeiro herbário médico, o Pen-Tsao (c. 2800 a.C.). Ele é descrito como quem preparou os primeiros quadros de Acupuntura, mas é acredita-se que, na realidade, esta é uma prática muito mais antiga. Por exemplo, há descrições do uso de rolos de madeira para massagem no abdômen como tratamento da constipação.
  • Yu Hsiung (c. 2600 a.C.) o Imperador Amarelo (Huang Ti) escreveu um grande tratado de conhecimento médico, o Nei Ching (Cânones da Medicina Clássica). Este trabalho foi traduzido durante muitos séculos, mais notavelmente no San-Tsai-You-Hoei, um livro japonês do século 16 que forneceu os conhecimentos iniciais para o Shiatsu.

Em muitas dessas escrituras chinesas, o desenvolvimento de terapia física era baseado na imitação dos movimentos naturais de animais. Técnicas atuais como a tapotagem e a petrissage eram combinadas com um sistema engenhoso de terapias físicas. Escritos da época da dinastia de Chou também mencionam a especialização das práticas médicas, e a massagem é listada como uma dessas especialidades.

No ano 3000 a.C., Bong Fau de Tao-Tse escreveu um livro sobre os princípios do sistema de exercícios e movimentos chineses, demonstrando a utilidade deles juntamente com técnicas de massagem. É este livro que foi traduzido depois para o francês e pode ter sido a primeira introdução da massagem chinesa no Ocidente. Por isto, a terminologia francesa continua a ser usada na massagem moderna.

Antes do sexto século, a medicina chinesa já havia se espalhado para a Coréia e foi por este meio que a filosofia médica chinesa se infundiu no Japão. Depois de uma severa epidemia que atingiu o Japão, muitos médicos coreanos foram chamados para, utilizando suas habilidades médica, tratarem as pessoas japonesas doentes. Os métodos que eles usaram eram chineses e se tornaram parte de conhecimento médico japonês deste ponto em diante. Mas a cultura chinesa era bastante fechada e muito dos conhecimentos médicos iniciais foram perdidos ao longo do tempo. Eles também se recusavam a avançar utilizando novas técnicas e idéias que haviam sido desenvolvidas. Muito disso se deve à reverência daquele povo aos Imperadores, pois cada novo imperador sempre demitia todas as pessoas sábias que prestavam serviços ao reinado prévio e procedia a uma filtragem de todos os avanços intelectuais feitos durante o reinado do antecessor. Um exemplo surpreendente disto é achado no livro de Daniel J. Boostin "Os Descobridores". Durante o século 17, um grupo missionário Jesuítas visitou Beijing, trazendo relógios italianos com eles. O imperador o Wan Li ficou pasmo pelos funcionamentos dos relógios; no entanto, 500 anos antes, um imperador chamado Su Sung havia construído um relógio astronômico muito preciso, mas quando um novo imperador o sucedeu, em 1094, o trabalho de Su Sung foi abandonado, uma vez que era um hábito considerar que tudo o que fosse do reinado anterior era incorreto.

A cultura grega também era uma sociedade avançada no âmbito dos conhecimentos médicos. Os escritos de muitos médicos, como Herodicus no quinto século a.C., discutiam o uso de massagem com ervas e óleos para curar ferimentos e como um suplemento para a cirurgia. Hipocrates foi aluno de Herodicus, e é conhecido como o pai da medicina hoje (O Juramento de Hipocrates). Ele viveu de 460-370 a.C. e é mais conhecido por sua Coleção Hipocrática que incluiu os escritos de outros médicos da Escola de Cós, onde Hipocrates era um instrutor. Nestes escritos ele usou a palavra "anatripsis" a que recorreu para designar o uso da fricção como uma modalidade de tratamento médico. Ele documentou o uso da massagem no tratamento de deslocamentos, constipação e fraturas. Outros médicos gregos como Celsus e Galen, o médico para Imperador Marcus Aurelius, referem-se à massagem em seus escritos. Galen igualmente usou o termo anatripsis no texto em que ele relata a descoberta da existência das artérias e veias e o uso delas como um caminho para sangue. Outros médicos prescreviam manipulações físicas semelhantes a tapotagem para tratar desordens como tétano, impotência e artrite reumática.

Antes de Hipocrates, a Grécia teve um largo desenvolvimento de seu comercio, por meio das conquistas militares, especialmente com o Egito e o Oriente Médio. Estas rotas comerciais se estenderam à África, Índia e até mesmo além, para as terras da China. Isto era especialmente verdadeiro nas ilhas do Mar Egeu. Na realidade, a palavra grega para massagem decorre da mistura de palavras de outras línguas, em particular da palavra "massa", que em árabe significa apertar suavemente. Durante esse período, foram traduzidos muitos textos árabes para o grego, como os Avicenna, um médico árabe famoso. É um tema comum às medicinas chinesa, árabe e grega o equilíbrio do corpo. Hipocrates chamou isto "Vix Medicatrix Naturae", que pode ser traduzido como a “via medicamentosa natural” ou também por “força de curativa da natureza”, curiosamente, os Indianos referem-se a isto como “prana’. Já os chineses, chamam de Chi. Até mesmo nas escritas homéricas, há referência a “thymos”. Aristóteles fundamentou boa parte dos escritos médicos de sua época e partilhava da convicção de que a saúde era decorrência da harmonia do corpo, considerando que as doenças eram provocadas por desequilíbrios ou perturbações desta harmonia. Pitágoras chegou a associar a harmonia do corpo aos tons musicais e relacionar as deficiências orgânicas do corpo com distorções matemáticas.

Na maioria das culturas existia o reconhecimento de que há mais relacionado ao corpo do que aquilo que é visível pelos olhos. E o uso do toque era considerado um dos modos de restabelecer ou destruir esta harmonia corporal, desde o princípio dos tempos. Por causa da convicção de que não se deveria interferir com o curso de natural do processo curativo, poucas abordagens farmacológicas eram usadas nessas culturas. Mas a massagem era vista como uma parte essencial de tratamento médico.

Durante a Idade Média, simultaneamente florescia a cultura hindu que culminou nas escrituras do Ayurveda. Este representou uma compilação de todo o conhecimento médico acumulado, combinado com os tratamentos populares e consagrados pelo tempo, destinados tanto ao corpo como ao espírito. Também a ciência islâmica estava em seu ápice, durante o qual foram escritos muitos tratados sobre medicina, cirurgia e herbologia. Muito desses conhecimentos foram obtidos dos chineses e até mesmo de fontes egípcias. Avicenna era o médico de árabe mais proeminente, conhecido por seus "Princípios da Medicina". Nestes, ele abordou todos os aspectos conhecidos da saúde e dos cuidados médicos. Seus escritos eram conhecidos por todas as culturas mediterrâneas, e considerados a base para os cuidados médicos.

Mas, curiosamente, um atributo comum a todas essas culturas impediu que o mundo Ocidental se beneficiasse desses extensos conhecimentos médicos por muitos séculos. A palavra “pagão”. Os cristãos consideravam todos esses povos pagãos. Durante esse período inicial do Cristianismo, ele tentava estender seus domínios além dos limites do mediterrâneo e simultaneamente estabelecia contatos com muitas e variadas filosofias religiosas. Na medida em que cresciam os domínios cristãos também se ampliava a idéia de governo vinculado à religião e, com isso, a intolerância religiosa. Ao invés de absorver os conhecimentos das culturas nativas de seus novos domínios, o Cristianismo as destruía em favor de seu próprio conceito de realidade. Essa destruição englobou de tudo, desde convicções éticas e religiosas até os conhecimentos médicos e as técnicas de massagem. A manipulação manual e a utilização do toque foram preconceituosamente associados à promiscuidade sexuais ou à propagação de doença. Uma vez que os cuidados médicos foram muito limitados pelos preconceitos da cristandade, somente pessoas desesperadamente doentes procuravam cuidados de um médico, e como, em virtude do estado avançado de suas doenças elas na maioria das vezes morriam, criou-se uma descrença em relação aos conhecimentos médicos não cristãos. Só os cristãos cópticos na bacia de Nilo mantiveram os antigos escritos médicos juntamente com as práticas Ascéticas dos cristãos iniciais.

Somente a partir do século 14 a Europa começou a recuperar muito do que tinha perdido. A Igreja durante séculos foi absorvendo os espólios das Cruzadas. Monastérios eram os repositórios do que restou das bibliotecas árabes e, desde muito, os membros jovens da nobreza, que haviam viajado nas campanhas, haviam ficado pasmos pelo grau de desenvolvimento que encontraram no Crescente Fértil. Os monastérios haviam sido sobrecarregados pela árdua tarefa árdua traduzir e transcrever os textos que foram trazidos pelos Cruzados. Em seu livro "O Nome da Rosa", Umberto Eco ilustra o propósito dos mosteiros como centros religiosos de purificação dos conhecimentos da civilização árabe, trazidos pelos Cruzados. Os textos médicos de Avicenna foram “limpos” de referências religiosas e então escondidos em grandes bibliotecas ocultas nas paredes dos mosteiros. Durante as batalhas entre a Igreja e a nobreza, muitos monastérios foram saqueados em busca do ouro e dinheiro que abrigavam. Deste modo, os textos escondidos atrás das paredes foram tomados pela nobreza, que deles se utilizou para aumentar a parte que detinha na estrutura de poder da Idade Média. Então, o conhecimento médico tornou-se mais largamente disponível e, no século 14, Guy de Chauleac publicou uma das mais importantes obras de seu tempo. Seu livro de ensino cirúrgico permaneceu como texto de referência durante os próximos 200 anos. Nele, Chauleac descreveu a massagem como um suplemento essencial para cirurgia. Em princípios do século 16, Ambroise Pare, um médico francês descreveu os efeitos positivos de massagem no processo curativo. Ele classificou os movimentos como suaves, médios e vigorosos, e buscou os fundamentos anatômicos e fisiológicos para a mecanoterapia.

Mas foi não antes das contribuições de Per Henrik Ling (1776-1839), um mestre de esgrima sueco, que um compêndio realmente abrangente e sistemático sobre massagem foi publicado na Europa. Ele viajou várias vezes para a China e também leu as traduções dos escritos médicos chineses que o levaram a desenvolver o Sistema Ling, também conhecido como o Tratamento de Movimentos Sueco. Este foi uma combinação de sistemas de massagem e ginásticas médicas, no qual ele classificou os movimentos como passivos ou ativos. A partir disto, Ling fundou o Instituto Real Sueco de Ginástica, onde ele tratou muitos pacientes com os seus conceitos de terapia da massagem.

De 1830 até 1920, a massagem transformou-se de um comércio obscuro e inexperiente em um campo do cuidados médicos. A terapia da massagem moderna é creditada ao Dr. Johann Mezger (1839-1909), que foi quem permitiu que a massagem passasse a ser ensinada como parte do currículo em escolas médicas de Alemanha e Escandinávia, durante o século 19. Este feito aumentou o desenvolvimento e o uso do Sistema Ling de manipulação. Esses primeiros métodos de massagem eram muito vigorosos, seguindo a linha mestra do sistema de Ling. Pessoas tais como o professor Charcot (professor de Freud), Albert J. Hoffa (Technik der Massage), na Alemanha, e James B. Mennell influenciaram a alteração da terapia da massagem para um método mais delicado e suave, menos dolorosa para o corpo, distanciando-se do sistema de Ling. Mennell ilustrou isto em seu livro, o Tratamento Físico por Movimento, Manipulação e Massagem, que foi baseado nas pesquisa e na documentação de Championniere.

Mas esse movimento para uma abordagem mais delicada conduziu a massagem a um distanciamento da prática médica, aquela dos muitos métodos dolorosos utilizados em princípios do século 20, que se baseavam talvez na filosofia do "Nenhuma dor, nenhum ganho". O uso de máquinas para substituir tratamento manual e o desenvolvimento da indústria farmacêutica, que permitiu a mais pacientes serem tratados em um tempo mais curto, baniu a natureza pessoal da assistência prestada pelo médico e, com isto, a aproximação pessoal entre o terapeuta e o paciente na massagem.

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